As sociedades tribais diferenciam-se umas das outras em muitos aspectos , mas pode-se dizer , em termos gerais , que não são estruturados pela atividade que em nossa sociedade denominamos trabalho. Nelas todos fazem quase tudo , e as atividades relacionadas à obtenção do que as pessoas necessitam para se manter - caça , coleta , agricultura a criação- estão associadas aos ritos e mitos , ao sistema de parentesco , às festas e às artes , integrando-se , portanto , a todas as esferas da vida social. A organização dessas atividades caracteriza-se pela divisão das tarefas por sexo e por idade. Os equipamentos e instrumentos utilizados, comumente vistos pelo olhar estrangeiro como muito simples e rudimentares , são eficazes para realizar tais tarefas. Guiados por esse olhar , vários analistas , durante muito tempo, classificaram as sociedades tribais como de economia de subsistência e de técnica rudimentar , passando a ideia de que elas viveriam em estado de pobreza , o que é um preconceito. Se hoje muitas delas dispõem de áreas restritas enfrentando difíceis condições de vida, em geral , antes do contato com o chamado "mundo civilizado" , a maioria vivia em áreas abundantes em caça e alimentos de vários tipos. Marshall Sahlins, antropólogo estadunidense , chama essas sociedades de "sociedades da abundância" ou "sociedades do lazer" destacando que seus membros não só tinham todas as suas necessidades materiais e sociais plenamente satisfeitas, como dedicavam um mínimo de horas diárias ao que nós chamamos de trabalho. Os ianomâmis , da Amazônia , dedicavam pouco mais de três horas diárias às tarefas relacionadas à produção ; os guayakis , do Paraguai , cerca de cinco horas , mas não todos os dias; e os kungs , do deserto do Kalahari , no sul da África , em média quatro horas por dia. O fato de dedicar menos tempo a essas tarefas não significava, no entanto , ter uma vida de privações. Ao contrário , as sociedades tribais viviam muito bem alimentadas , e isso fica comprovado em relatos que sempre demonstram a vitalidade de todos os seus membros . É claro que tais relatos referem-se à experiência de povos que viviam antes do contato com o "mundo civilizado". A explicação para o de os povos tribais trabalharem muito menos do que nós está no modo como se relacionam com a natureza , também diferente do nosso. Por um lado , para eles, a terra é o espaço em que vivem e tem valor cultural, pois dá aos humanos seus frutos: a floresta presenteia os caçadores com os animais de que necessitam para a sobrevivência e os rios oferecem os peixes que ajudam na alimentação. Tudo isso é um presente da "mãe natureza". Por outro lado, os povos tribais têm uma profunda intimidade com o meio em que vivem. Conhecem os animais e as plantas , a forma como crescem e se reproduzem e quais podem ser utilizados para a alimentação , para a cura de seus males ou para seus ritos.