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A Terra Sem Mal: Os Deslocamentos Dos Tupis

Sabe-se que os tupis, o principal grupo que habitava o litoral da América portuguesa, deslocavam-se continuamente no sentido leste-oeste , em busca de uma região que acreditavam ser a morada de seus ancestrais e , ao mesmo tempo, um lugar de abundância , juventude e imortalidade, a Terra sem mal. Profetas indígenas percorriam as aldeias apresentando-se como reencarnação de antepassados heroicos e procurando convencer seus habitantes a abandonar o trabalho e a dançar. As peregrinações em busca dessa verdadeira "Terra Prometida" provocavam um comportamento nômade ou semi-sedentário entre os tupis. Em razão disso, a sedentarização era incompreensível para suas bases culturais , pois significaria o afastamento em relação ao sentido essencial da vida. A prática da refundação das aldeias , seja em busca da terra sem mal, seja provocada pela escassez da caça ou esgotamento do solo, constituía-se como elemento indissociável da vida tupi. A maior parte das organizações tribais da parcela da América conquistada pelos portugueses era composta por coletores-caçadores nômades ou por comunidades semi-sedentárias. Praticavam a pesca , a caça e a agricultura com técnicas rudimentares. A disputa por áreas ricas em alimentos e os deslocamentos constantes provocavam conflitos e rivalidades intermináveis entre as várias comunidades indígenas. A guerra era a forma se vingar os antepassados mortos em outros conflitos e capturar guerreiros adversários que, após o período de cativeiro, eram sacrificados em festivos rituais de antropofagia. Na lógica dessas comunidades, junto com a vingança , prestava-se uma espécie de homenagem à valentia do cativo, cujas qualidades eram consumidas pelas partes do seu corpo. Além dos profetas ambulantes que chamavam os indígenas para a Terra sem mal, duas outras lideranças destacavam-se no interior dessas comunidades: o chefe guerreiro e o pajé. O primeiro era o responsável pela organização militar  da aldeia , firmava acordos e alianças com os outros chefes guerreiros e liderava a comunidade em seus deslocamentos e refundações de aldeias. O pajé, também conhecido por xamã, praticava o curandeirismo, interpretava os sonhos e agia como intermediário entre o sobrenatural e a vida cotidiana. O prestígio e a responsabilidade dessas lideranças não conferia a elas nenhum tipo de privilégio socioeconômico. A propriedade privada era desconhecida pelos indígenas e o trabalho era distribuído igualmente entre seus integrantes . Segundo o relato do proprietário de terras Gabriel Soares de Souza, de 1587, o chefe guerreiro há de ser valente homem para conhecerem como tal, e aparentado , para ter quem ajude  a fazer suas roças mas quando as faz com ajuda de seus parentes e chegados , ele lança primeiro mão do serviço que todos.  A partir do ano de 1500 os destinos das comunidades indígenas foram alterados e articulados à história dos europeus. Os milhares de milhões de nativos que habitavam continente à época da conquista ( as estimativas são conflitantes e alguns estudiosos chegam a estabelecer mais de 50 milhões para toda a América e 5 milhões só para a região Amazônica) foram dizimados pelo maior genocídio já praticado ao longo da História. A denominação desses povos ocorreu tanto sob a forma da violência mais concreta , com extermínios e escravizações, quando sob o manto de uma elaborado imposição cultural.