Muita coisa mudou na administração pública desde as reformas administrativas de Getúlio Vargas e de outros governos , que instituíram gradativamente concursos públicos para a maioria dos postos de trabalho e procuraram implantar uma administração com certo grau de profissionalização , no sentido definido por Max Weber , com a impessoalidade da função pública. Mesmo assim, sabemos que ainda há casos de manipulação nos concursos públicos e a prática do nepotismo , ou seja, o emprego ou favorecimento de parentes em cargos públicos , ainda que isso seja proibido por lei. Quando ocorrem atos de corrupção na administração pública , a reação costuma ser marcada pelo moralismo , que se caracteriza por atribuir ao caráter pessoal do funcionário ou político envolvido a responsabilidade pela malversação dos recursos públicos. Não se procura evidenciar as relações políticas , econômicas , sociais e culturais que estão na raiz das práticas de favorecimento e tráfico de influência . Assim, há uma simplificação desse fato , pois se acredita que bastaria fazer um governo com os homens e mulheres "de bem" para que tudo fosse resolvido. A corrupção existe em todos os países do mundo, tanto nas estruturas estatais como nas empresas privadas. No Brasil, ela se mantém no sistema de poder porque , como vimos, o favor e o clientelismo continuam presentes. O combate à corrupção requer a criação de mecanismos que a coíbam , garantindo que os envolvidos sejam julgados e condenados por seus atos. E isso tem sido feito com a ajuda de funcionário públicos , promotores e juízes que não aceitam mais essas velhas práticas. Enquanto a despolitização e a economia como foco , com a ampliação das transformações produtivas e financeiras no mundo, principalmente depois da década de 1980 , a questão política no Brasil está cada vez mais dependente das questões financeiras. Conforme o sociólogo Marco Aurélio Nogueira, a política brasileira , nos últimos anos, resume-se a uma tentativa de estabilização monetária, na qual o mercado está acima do Estado , o econômico acima do político, o especulativo acima do produtivo e o particular acima do geral. Além das condições anteriormente mencionadas (clientelismo e a favor) , isso também gera uma despolitização crescente , pois a política estaria neutralizada e esvaziada como instrumento de mediação entre o individual e o coletivo, campo de discussão das ideias e de projetos políticos divergentes e em conflito. Novamente aparece um paradoxo no Brasil: foi o país onde houve nos últimos anos o maior crescimento do eleitorado e , ao mesmo tempo, uma despolitização enorme.